Sofrimento nas famílias
- Carolina Martins
- 12 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de set.
Muitas vezes, nos deparamos com sofrimentos que parecem não ter explicação clara. Um vazio persistente, relações que se repetem de forma dolorosa, angústias que retornam em ciclos.
Por que, mesmo desejando algo diferente, acabamos presos a velhos padrões? É nesse ponto que o olhar clínico pode se voltar para as repetições transgeracionais.

As repetições transgeracionais dizem respeito a experiências emocionais, traumas, formas de lidar com o mundo e com os afetos que atravessam as gerações de uma família. São histórias que, muitas vezes, não foram ditas, mas que continuam sendo vividas. Um luto não elaborado, um segredo guardado, uma exclusão silenciosa — tudo isso pode reverberar na existência de quem veio depois.
Do ponto de vista fenomenológico-existencial, essas repetições não são vistas como "determinismos", mas como possibilidades de sentido. O sofrimento que aparece hoje carrega uma história, uma intencionalidade, ainda que inconsciente. E é na relação com o outro — especialmente na relação terapêutica — que essas vivências podem ganhar forma, voz, expressão.
Na clínica, frequentemente percebemos que certas dores carregadas pelos pacientes não começaram exatamente neles. Há uma tentativa de dar conta do que, talvez, nunca foi olhado antes. Como se, por meio do sofrimento, a pessoa tentasse manter um pertencimento familiar, honrar o que não pôde ser vivido, ou dar continuidade a algo que ficou suspenso no tempo.

Mas é justamente ao dar-se conta dessas repetições — ao reconhecê-las em sua vida concreta — que se abre a possibilidade de escolha. Não se trata de cortar vínculos com a história familiar, mas de se posicionar diante dela de modo mais consciente. A clínica, nesse sentido, não oferece respostas prontas, mas um espaço de escuta onde o paciente pode experimentar uma nova relação com o seu próprio existir, com sua liberdade e com sua responsabilidade.
Romper com as repetições não é esquecer o passado, mas transformá-lo em memória viva — algo que, em vez de aprisionar, pode sustentar novos modos de ser no mundo.
Talvez você já tenha dito ou ouvido as seguintes frases:
"Isso sempre acontece na minha família"
"Eu não sei de onde vem isso"
"Preciso honrar a memória da minha família."
"É sempre assim na minha família, nunca dá certo."
"Eu preciso fazer dar certo, para fazer diferente do que foi para meus pais/avós"
"Preciso dar conta disso"
Ninguém precisa dar conta de tudo e, muito menos, de situações e padrões que dizem respeito a toda a família. Isso não significa que seja fácil reconhecer os sofrimentos compartilhados e transformar isso.
Vamos juntos ?